domingo, 20 de junho de 2010

O homem e o trabalho

Esta semana me olhei no espelho e pensei, preciso cortar minha franja, está grande, meu aniversário está chegando e quero estar com um novo corte de cabelo. Logo em seguida olhei para os meus olhos, os mesmos olhos que são os espelhos da alma. Vi uma imagem diferente. Eles estavam vermelhos, as olheiras se destacam mais do que qualquer outra coisa no meu rosto. Ainda no banheiro, de frente ao espelho, pensei, mais uma vez, como estou cansada, estressada...

Assim como todo mundo tenho dias bons e dias ruins. Será que estou trabalhando demais? Mas o que é trabalhar demais? Trabalhar todos os sábados? Três domingos em um mês? Nos feriados? Mas e ai? Quantos fazem isto também? Quantos fazem muito mais do que isto? Quantos como eu estão trabalhando no mesmo momento que a nossa Seleção Brasileira joga rumo ao Hexa, na Copa do Mundo 2010? Às vezes é difícil, o cansaço bate. Às vezes tenho uma semana mais pesada do que a outra. Às vezes o dinheiro acaba mais rápido. Às vezes o mau humor é maior do que a esperança de um dia melhor.

Mas é só passar o momento de questionamento que surge uma outra sensação. A de alívio. Alívio de ter saúde, trabalho, estudo, amigos, família, de ter uma vida confortável. Uma vida em que me proporciona colher ótimos frutos, de guardar lembranças inesquecíveis e de querer trabalhar muito mais para viver muito mais.

Este despertar aconteceu ontem. Na verdade hoje. Era madrugada de sábado para domingo. Quase 2 horas da manhã. Eu tinha ido curtir a noite de sábado em uma boate com o namorado e alguns amigos. No domingo eu só entrava na redação às 14 horas e no sábado a jornada se encerrou às 21h30, então dava parar aproveitar a noite. Aproveitei. Depois da diversão bateu a fome. Fomos lanchar em um bar/restaurante novo na Praia do Canto. Enquanto esperava ansiosa pela comida, surgiu um senhor. Estava frio, e ele estava de chinelos, calça e blusa de mangas curtas. Vendia essência para carros e banheiros. Aos poucos, humildemente, ele se aproximava das mesas e oferecia seu produto. Pelo que percebi ninguém comprou. Eram mais de 2 horas da manhã. Naquele momento, meu coração apertou, como agora ao escrever este texto. Tentei observá-lo para saber aonde ia, se ainda daria tempo de ajudá-lo. A fome passou. Uma simples coxinha acabou com ela. O senhor sumiu no meio das pessoas que estavam na rua. Ele só estava trabalhando. Apenas buscando pelo pão de cada dia. Pelo sustento, quem sabe de uma família.

Minutos depois uma criança se aproximou. Um pequeno adolescente. Ele vendia chicletes, mas eu não masco chicletes. Quanto que é? Dois reais. Trocado na minha carteira eu só tinha uma moeda de um real. Dei a ele. Ele ficou me olhando e eu disse, pode ir, não preciso do chiclete. O que ele vai fazer com a moeda eu não sei, mas era de madrugada, ele não deveria estar ali. Trabalhando naquelas condições. Mas assim como o senhor, o pequeno adolescente trabalhava em busca de uma vida melhor.

Ai eu volto aos meus pensamentos e agradeço a Deus, por ter um trabalho, por ter a oportunidade de viver melhor. E peço a este mesmo Deus, para que proteja aqueles que sempre optam pelo trabalho para sobreviver, em especial ao senhor das essências e ao adolescente dos chicletes.

Um comentário:

  1. Ei Mari,

    Estou aqui em AT, ao final de um dia cansativo de trabalho, e me deparo com seu texto. Para me lembrar exatamente que é preciso agradecer mais. Por tudo o que tenho, seja bom, seja ruim, mas que me faz crescer.Linda mensagem. Feliz aniversário, algumas horas adiantada!

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